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O que queremos ser e o exemplo que queremos dar

  • pedroalbertoescada
  • 7 de fev.
  • 3 min de leitura

Durante o mandato atual da Direção da Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologia e Cirurgia da Cabeça e Pescoço (SPORL-CCP), o Professor Marques dos Santos pediu-me para representar a nossa sociedade em várias reuniões internacionais importantes.

 

Agradeço-lhe a confiança em mim depositada. Esforcei-me sempre nessas ocasiões por representar bem os interesses da nossa sociedade e do nosso país, estando ao mesmo tempo atento e preocupado por participar em decisões que fossem também válidas de acordo com a minha consciência.

 

Uma dessas reuniões, que prefiro não identificar, foi a Assembleia Geral de uma organização na qual a SPORL-CCP tem uma posição de membro efetivo. A agenda dos trabalhos incluía vários assuntos tais como a formação, os jovens, relatórios financeiros e, finalmente, um conjunto de alteração dos estatutos dessa organização.

 

A minha análise dos vários pontos em que os estatutos iriam ser alterados chocou imediatamente com uma frase que me pareceu completamente insólita e despropositada. Vou copiá-la: “A Core Presidential Council consisting of the President, the Secretary General and the Treasurer shall decide on the acceptance of Individual Members. The acceptance can be denied without any reason. The Core Presidential Council decides by simple majority.”

 

Não me parece, e portanto também não me pareceu nesse momento, que fosse aceitável, nos tempos em que vivemos, em que todos os decisores e os representantes de qualquer grupo de pessoas têm que prestar obrigatoriamente contas àqueles que representam (o termo Inglês “accountability” é perfeito mas é difícil de traduzir diretamente para o Português), não me parece, repito, que 2 pessoas (a maioria) de um núcleo (core) constituído por 3 pessoas de um Conselho que totalizava 13, pudesse recusar a inscrição como membro de um qualquer candidato “without any reason”.

 

Como dizem os jovens, “há mínimos!”

 

Há certos momentos em que, por mais desconfortável que seja, temos que intervir para não sermos condenados pelo nosso juiz mais exigente, a nossa consciência. A minha intervenção nessa Assembleia Geral  ficou registada em Ata, que transcrevo:

 

 “Pedro Escada, Representative from Portugal, asks about the sentence in the article of the Constitution 2.9. “The acceptance can be denied without any reason” as it seems a little bit discretionary, it must be explained why a member is not accepted. → XXX explains that this sentence was proposed by the lawyer in 2022 and was accepted when voting the changes in the Constitution in 2022. YYY clarifies that the only change in this article is that is the Core Presidential Council who approves the acceptance of individual members instead of the whole Presidential Council. ZZZ stresses that this comment will be taken into consideration for the future revision of the Constitution.”

 

A Ata não capta todo o diálogo que teve lugar na assembleia. Por exemplo eu não aceitei a justificação de que a frase inaceitável “the acceptance can be denied without any reason” pudesse estar nos estatutos porque os advogados o tinham sugerido, tendo retorquido que os advogados servem para ajudar os representantes a formular o texto para as ideias mais corretas, e não o contrário.

 

Também me impressionou e preocupou a indiferença com que os delegados das outras sociedades representadas pareceram atender a este ponto, que não deixa de ser a imagem de uma organização, do que quer ser, e do exemplo que quer dar.

 

O resultado final da votação da alteração dos estatutos dessa organização foi o seguinte: “With 86 votes for and 1 against, the changes to the Constitution are approved.”

 

Qual é, se assim se pode dizer, “a moral desta história”? (na minha perspetiva, claro, os leitores poderão discordar...)

 


É a seguinte: por vezes, mesmo que incomodemos ou que interrompamos a tranquilidade normal das existências, temos que fazer alguma coisa diferente de ficar calados. É possível, provável ou até certo que possamos incomodar alguém. Mesmo assim, é isso que devemos fazer, não ficar calados.

 
 
 

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